segunda-feira, 24 de abril de 2017

O ENCONTRO - página 3

A pausa soou como uma grande interrogação.  O que ela veio fazer aqui? Será que aconteceu alguma coisa?  E agora, o que perguntar?  O que fazer?
Mas antes que conseguisse fazer alguma pergunta ela me diz:
- desculpe, eu aqui te enchendo com minhas bobagens.  Você não tem nada a ver com meus problemas para perder tempo me ouvindo.  Você nem me conhece para  . . .


Foi aí que deixei me levar por um impulso, e peguei aquela mão macia e cheirosa e com um sorriso de que quem estava realmente feliz, a interrompendo me apresentei:
- Oi, sou Jardel.  Também moro numa cidadezinha . .  tem internet, péssima, mas funciona . . .

Então sem percebermos, começamos a rir e toda aquela tensão se esvaíra chegando a nos olharmos nos olhos.
- muito prazer Jardel, eu sou Rita
mais uma vez, rimos, sem nos dar conta, rimos até alto.  Mas o que mais nos importava. 

Estranhamente, parecia que tudo havia mudado. Foi então que ela recolheu sua mão e eu de um modo alegre mas sério, pedi para que voltasse  a contar sua história.
- mas me diga, o que esse rapaz fez a você?

Por um instante achei que fiz a pergunta errada, pois ela desfez-se do sorriso, abaixou a cabeça, respirou fundo . . . mas recostou-se e olhando para mim, voltou a contar sobre sua história:
- nos falávamos quase todos os dias, quando a internet deixava.  Como toda menina interiorana, fascinada pela vida da cidade grande, que as novelas nos mostrava, me via aqui ao lado dele, achando que tudo seria um conto de fadas.  

Foi então que ela abriu sua bolsa e e retirou lá de dentro da carteira uma foto.  Amassada, desgastada, não pelo tempo, mas por tanto ter sido manuseada e me mostrou.
- é esse aqui!  

Por alguns segundos a voz dela embargou.  Ela então tomou-se de coragem e a rasgou . . .esse gesto me deu ainda mais força para acreditar que algo de verdade estava acontecendo, mesmo sem me dar conta que tudo estava indo tão rápido.

Enquanto jogava os pedaços do que sobrou da foto em uma lixeira que estava ao lado dela, recomeça a contar sua história.
- um dia, ele me disse que se viesse para o Rio iria me mostrar porque essa cidade é maravilhosa.  Eu já toda seduzida pelas palavras dele, encantada pelas novelas, comecei a sonhar com uma vida muito diferente da que eu vivia em Macuco, que era contar estrelas e irmos ao Clube União Maravilha, que de maravilha não tinha nada. Tudo que contava para minhas amigas, elas me incentivam dizendo que se tivesse acontecido algo assim com elas, não pensariam duas vezes, pegavam o primeiro ônibus para o Rio e se mandavam.
- mas que amigas!  Disse eu, num rompante
- não posso reclamar delas, todas nós vivíamos sonhando. . . era   . . .  sabe . . . Macuco fica perto do Rio e ao mesmo tempo muito longe. São expectativas muito diferentes.  Sabe, você sonha em ter onde se divertir, onde passear, onde  . . .
- calma!
Disse isso, me aproveitando do momento e segurando as duas mãos dela. Nesse momento, percebi que minha paixão, mesmo que momentânea estava me deixando mais preocupado em tocá-la do que ouvi-la.  Então, soltei as mãos dela e puxei minha camisa para baixo, endireitei minha coluna e como se como me sentindo o próprio Freud, retruquei:
- vamos com calma.  Temos tempo.  Me conte o que mais te chateia nesse momento. Como você chegou aqui?
- (rindo) sim doutor . . aqui, aqui?
- (rindo) não! No Rio.  Você disse que fugiu.  Já contou porque fugiu, mas não, como fugiu?  Você já é grandinha, não tem motivo para fugir.
- (rindo) grandinha . . . quantos anos acho que eu tenho?
- uns 30 . .  (rindo) brincadeirinha, deve ter uns 25 anos.

Ela entre risos e espanto ela com toda doçura que lhe era peculiar me responde:

- tenho 20, na verdade estou a porta dos 21, mas lá em minha casa a idade não era importante, mas sim o que pensam seus pais.  Os meus eram pessoas muito honestas, que criaram seus cinco filhos com o suor do trabalho da lavoura e que a mim, cuidavam com o resultado de todo esse trabalho.  Estavam aposentados e com quase todos os filhos criados.
- você era a mais nova?
- mais que isso, como eles dizem, eu era a raspa do tacho, eu tenho 8 anos de diferença para o mais novo.  Vim para aqui sem autorização deles. Um tio meu apareceu lá do nada. . . (risos incontidos)
- o que houve, por que  está rindo?
- . . . do nada  . . . tão pouco tempo aqui e já estou falando como um carioca.  É, meu tio que é caminhoneiro,  teve que entregar uma carga lá e depois viria para o Rio.  Aproveitei de um descuido dele e me escondi na boleia, desci em uma das paradas e peguei um ônibus.  Vim baldeando até aqui.
-   não seria mais fácil se pegasse o ônibus para o Rio?
- sim e não.  Você não sabe o que é morar numa cidade onde todos se conhecem.








Escreva que eu leio e respondo. . . mas ñ xingue

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