quinta-feira, 20 de abril de 2017

O ENCONTRO - página 2

continuação . . .

- bem, como disse, meu nome é Rita, sou de uma cidade muito interiorana do Rio de Janeiro, onde nem internet tínhamos direito.  Nasci e cresci em Macuco. É uma cidadezinha, encrostada entre morros  . . . existem prédios aqui no Rio que tem mais pessoas que toda minha cidade . . .

Tentando esconder toda minha alegria de estarmos conversando, mas sem evitar os cacoete de tocar no óculos, quando estou nervoso, acabei por interrompê-la quando falava sobre onde morava.
- (entre risos) mas como? É tão pequena assim?

Ela deu um sorriso tão lindo, que todo constrangimento de estar em um trem parado, sem ar ligado, tornou-se como uma sala de estar climatizada, em plena montanha dos Alpes Suíços.  Então ela calmamente me disse:
- sim, é muito pequena.  Tem menos de 6 mil habitantes.
Mais uma vez a interrompi e  não conseguia mais disfarçar minha alegria
- agora 5.999 . . .(risos incontidos)

Rindo, ela balançou a cabeça como que concordando, mas de repente, não mais que de repente, seu riso se desfez, sua boca, de aparência macia e de contornos iguais ao da índia Iracema, se fecharam e percebi que as lágrimas que teimavam não querer sair de seus olhos, não resistiram a mais esse sentimento e caíram. Ela de modo embargado, disse:
- talvez tenha que voltar . . . 

Diante de um abatimento tão repentino e intenso, fique atônito, porém minha preocupação  levou minha mão até aquele rosto angelical fazendo-o  erguer novamente:
- o que te fez ficar tão triste assim?

Ela, tocando minha mão que estava em seu rosto,  suavemente a retirou, mas a manteve segura entre  seus dedos. Olhou para mim, enquanto uma lágrima teimava em cair, falou de maneira dolorosa:
- fugi de casa!

Foi então que minha cabeça girou por dentro, meus olhos tremeram por dentro das pálpebras e minha boca balbuciou, como quem não acreditava no que ouvia:
- como assim fugiu? Fugiu de onde?  Fugiu por que?

Seus olhos me pediam para não julgá-la antes de que terminasse de contar a história:
- minha cidade é muito pequena e quase todos vivem uma vida baseada nas novelas, sonhando em sair de lá.  Eu. . . eu . . . eu era apenas mais uma sonhadora. A vida na minha cidade não cabia em mim.  Meus pais me advertiam mas nada fazia sentido, eu só pensava em sair de lá. Hoje percebo que fui muito influenciado pelas novelas, pelo glamour da cidade grande.  Lá, tudo  aqui é maravilhoso, tudo é . . . um sonho.
Voltando a abaixar a cabeça e largando a minha mão para secar os olhos recaiu para trás no banco como alguém que perdera as forças.
Resolvi tocar-lhe nos ombros, acalentando, tentava afastar a tristeza. Mas minhas palavras não saiam e por mais que milhões de outras palavras surgissem, nenhuma delas tinha força de chegar aos ouvidos dela.

Ele continuou, dizendo:
- Conheci pela internet um cara que parecia ser tão legal.  Falava coisas tão bonitas, mostrava interesse em tudo que fazia.  Ele dizia que sempre quis conhecer uma menina como eu . . .

A pausa soou como uma grande interrogação.  O que ela veio fazer aqui? Será que aconteceu alguma coisa?  E agora, o que perguntar?  O que fazer?

 . . . continua







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